No dia 13 de Janeiro de 1997 decidimos visitar aos parques nacionais de Ubajara, no estado de Ceará, e de Sete Cidades, no estado de Piauí.
Saímos da cidade de Fortaleza às 16:30 aproximadamente, já pensando em passar a noite na cidade de Sobral, a 240 km. de Fortaleza e a uns 100 km. de Ubajara, nosso primeiro destino. Até a cidade de Croatá a estrada (BR-222), de duas vias, está em razoáveis condições, mas a partir dai a sinalização é péssima ou inexistente. Para piorar as coisas existem trechos com buracos enormes, um dos quais, na altura do km. 189, nos custou uma roda que tivemos de trocar na mais completa escuridão e sob risco de assalto (segundo fomos alertados pela Polícia Rodoviária, que parou no local para auxiliar outro motorista que arrebentou a roda depois de nós). Chegamos à cidade de Sobral quase três horas após sair da cidade de Fortaleza, e após uma rápida pesquisa decidimos ficar no hotel Cisne (088-6110236). O hotel Cisne é muito simples, mas os apartamentos, embora pequenos, são limpos e o preço bem razoável (R$ 30 com ventilador, R$ 35 com ar condicionado). O café da manhã faz jus à simplicidade do hotel, porém o mamão e o melão servidos estavam deliciosos, o café razoável, mas o suco (que presumimos fosse de laranja) intragável.
Saímos de Sobral cedo e chegamos no Parque Nacional de Ubajara mais ou menos uma hora depois. Na cidade de Tianguá deve-se entrar à esquerda no posto de Gasolina para ir à cidade de Ubajara; já que não existe qualquer placa tome cuidado para não continuar pela BR-222.
A grande e quase única atração do Parque Nacional de Ubajara é uma gruta situada em uma depressão de 535 metros à qual se chega mediante um bondinho em excelente estado de conservação (1998). A vista desde o terraço do bondinho (foto) é impressionante. O ingresso a parque custa R$ 1 por pessoa, e o bondinho, que começa a funcionar às 10 horas da manhã, R$ 4 por adulto e R$ 2 por criança. Existe uma trilha que requer um certo preparo físico e demora entre 1.5 e 2 horas em ser percorrida, que passa por cachoeiras muito bonitas e conduz igualmente à entrada da gruta. Prefira -se o seu estado físico permite- a trilha; o esforço físico é pesado mas as paisagens compensadoras.
Gruta de Ubajara O passeio na gruta é bem organizado, com guias do Ibama que -gratuitamente- conduzem os visitantes nos 400 metros iniciais e fornecem informações bastante interessantes. Os outros 300 estão atualmente reservados só a pesquisadores. A gruta é espetacular, com formações muito bonitas (foto), e realmente vale a pena a visita. Os diversos salões foram batizados com nomes alusivos às figuras que as formações representam. A certa altura do passeio o guia -prévio aviso- desliga as luzes da caverna. A escuridão, assim como o silêncio, é total. Há morcegos, muitos morcegos na caverna; o cheiro é inesquecível. Mas não oferecem perigo algum aos visitantes. A produção do site teve oportunidade, em 1990, de percorrer integralmente a gruta, passando por lugares de dificílimo acesso. Rios subterrâneos, lagos, e até um salão em forma de cone invertido, no qual corre água pelas paredes, oferecem uma experiência alucinante. Atualmente esse percurso está interditado ao público.
Decidimos almoçar no restaurante Boi Na Brasa, na cidade de Tianguá. Na entrada existe um botijão de vidro recheado com frutas regionais das mais variadas, que dão cor e sabor à pinga que completa o recheio. Vale a pena experimentar: a pinga é muito suave e o gosto delicioso. O restaurante oferece um self-service por quilo que parecia uma opção interessante, mas acabamos pedindo Carne do Sol (uma especialidade nordestina) e Picanha. Bastante bem servido, porções abundantes. O baião de dois (outra especialidade nordestina) que acompanhava as carnes deixava a desejar. Por meia porção de Carne do Sol, meia porção de Picanha e umas bebidas pagamos R$ 18.
Se você chegou até Ubajara vale a pena esticar até o Parque Nacional de Sete Cidades, no estado de Piauí, a cento e poucos quilômetros de Tianguá. A estrada, de Tianguá até o Piauí, é um desastre. Já no Piauí existem trechos impecáveis que se alternam com trechos absolutamente destruídos, onde nem existe mais asfalto. O ingresso ao Parque Nacional de Sete Cidades custa R$ 3 por pessoa, e existem guias autônomos que cobram R$ 10 pelos seus serviços. Nós recrutamos uma guia, a Edna, e realmente valeu a pena já que para descobrir por nós mesmos os pontos mais interessantes do parque tivéssemos gasto várias horas e já eram, a essa altura, quase três e meia da tarde. O grande atrativo do Parque são formações rochosas com formatos que lembram ora animais (pedra da Tartatura, do Camelo, etc.) quanto figuras várias (pedra do Rei, etc.). Cada formação é referida como Cidade, e pelo nome do parque dá para imaginar que existem sete formações, mas somente é possível visitar seis delas: a sétima requer autorização especial do Ibama, na cidade de Teresina. Na Segunda cidade, na Pedra do Americano, é possível apreciar inscrições feitas supostamente há milhares de anos, cujos autores são de origem desconhecida. Apesar da aura de mistério com que os guias referem-se às inscrições, estas são tão rudimentares que é impensável que os autores sejam membros de uma civilização avançada ou tivessem uma capacidade artística superior à de uma criança contemporânea de sete ou oito anos.
Outro atrativo do Parque é o Arco do Triunfo, uma formação rochosa espetacular em formato de arco, e uma trilha que leva ao topo da Quinta Cidade de onde se observa uma magnífica vista do Parque. No retorno à cidade de Sobral, onde decidimos novamente passar a noite já que a essa altura estávamos convencidos do altíssimo risco de viajar à noite nas estrada federais, fizemos uma visita ao hotel Ytacaranha (088-6134000), na serra da Meruoca, a 17 km. de Sobral. Tínhamos excelentes referências do hotel, considerado uma jóia do turismo local. A arquitetura do hotel é realmente interessante, a temperatura agradável da serra contrasta com o calor sufocante de Sobral, e a primeira impressão do hotel foi a melhor possível. Solicitamos para ver os apartamentos, e nos foram mostrados um apartamento comum e um superior. Ambos tinham um cheiro de mofo insuportável; a vista do apartamento comum era a parede de um outro prédio do hotel, e do superior a esquina de outro prédio do hotel. A decoração era praticamente inexistente, e consideramos que o preço do pernoite (R$ 100 por casal) era totalmente inaceitável devido à precariedade do apartamento. Retornamos à Sobral, onde visitamos o hotel Beira Rio (R$ 65 o casal, mas pagando a vista o preço era R$ 50, telefone 088-6114040), teoricamente um dos melhores da cidade. A recepção é bonita, o local onde se toma o café da manhã é interessante, mas novamente os apartamentos tinham um cheiro de mofo intolerável. Decidimos então voltar ao hotel Cisne, e após instalados fomos jantar num barzinho das redondezas, o Beth’s. Música maravilhosa (algo realmente incomum no Nordeste, onde é praticamente impossível evitar o É o Tchan e similares), atendimento super atencioso, sanduíches muito gostosos, e uma das melhores pizzas que comimos no Ceará. Às quintas-feiras (chamadas Quinta Sem Lei) um show realizado no local reúne centenas de pessoas e parece ser o acontecimento do dia na cidade.
O retorno de Sobral à Fortaleza foi razoavelmente tranqüilo, mas tem de ser prestar muita atenção aos buracos na estrada, que surgem nos pontos mais inesperados.Para os que se aventurem a repetir nossa experiência, algumas sugestões: